Use este identificador para citar ou linkar para este item: http://hdl.handle.net/11624/3158
Autor(es): Aquino, Caroline Rosa
Título: Racismo e branquitude : um estudo com graduandos da área da saúde.
Data do documento: 2021
Protocolo CEP: 41705420.5.0000.5343 01/01/2021
Resumo: O racismo, em sua pluralidade de formas e expressões, permeia os diversos espaços de convívio social, desdobrando-se como processo histórico e político. A existência do racismo é a existência de uma supremacia branca, politicamente construída ao longo da história, a qual produz desigualdades raciais concretas e simbólicas. A incorporação de padrões racistas atua diretamente na relação que se estabelece entre os sujeitos brancos e as pessoas dos outros grupos étnico-raciais no cotidiano das instituições de saúde, aspecto que está diretamente ligado ao fato de que, além da desigualdade racial existente no acesso à saúde, é também desigual a qualidade do atendimento, do tratamento e do cuidado. Sendo assim, este estudo se configurou como uma pesquisa qualitativa de caráter exploratório que visou analisar as representações e os sentidos do "ser branco" identificadas no discurso de alunos(as) brancos(as) de cursos da graduação na área da saúde. Para tanto, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com cinco acadêmicos de diferentes cursos da área da saúde da Universidade de Santa Cruz do Sul. A técnica metodológica para a seleção da amostra foi a ?Bola de neve?, com amostragem por conveniência. A análise e interpretação dos dados foi realizada à luz da Psicanálise em extensão ou extramuros, em articulação com estudos sociais acerca do tema. Os dados analisados apontam para uma representação do sujeito branco como um ser humano universal, desracializado, do qual se diferem os indivíduos considerados racializados. A percepção de si mesmo como pessoa branca é referenciada pelos entrevistados no contato com pessoas negras, ditas "diferentes", onde o sentimento de superioridade acompanha essa identificação do "diferente". O componente narcísico de autopreservação egoica fica evidente na medida em que pôde-se evidenciar sentimentos de medo em relação ao negro, de isensão de responsabilidade pelos privilégios vividos, de negação do próprio racismo e de responsabilização do próprio negro pelas desigualdades que vivencia. Pôde-se identificar várias contradições expressas na fala dos participantes, as quais põem em evidência a especificidade do racismo brasileiro, o qual afirma-se através da sua própria negação e é marcado pela ambiguidade. A omissão do lugar do sujeito branco na manutenção do racismo e das desigualdades dele decorrentes no contexto da graduação em saúde, pode ser entendida como uma das diversas manifestações do racismo à brasileira. Sendo assim, torna-se indispensável que os profissionais brancos da área da saúde reconheçam não só o sofrimento vivenciado por pessoas negras - e demais grupos étnico-raciais não-brancos, mas também a sua própria identidade racial; e que busquem então subverter a lógica colonial e de ideal branco no cotidiano das suas relações interpessoais e institucionais. Nesse sentido, devem haver mudanças não só a nível individual, mas, sobretudo, a nível institucional, sendo imprescindível suscitar reflexões sobre o racismo científico que serviu de base na estruturação do conhecimento ocidental, tanto nas ciências sociais quanto nas ciências da saúde, e levar em conta o epistemicídio que marca as trajetórias acadêmicas até os dias atuais.
Resumo em outro idioma: The racism, in its plurality of forms and expressions, permeates the various social living spaces, unfolding as a historical and as a political process. The existence of racism is the existence of white supremacy, politically constructed throughout history, which produces concrete and symbolic racial inequalities. The incorporation of racists standards operates directly in the relationship established between white subjects and people from the other ethnic-racial groups in the daily life of health institutions, an aspect that is directly linked to the fact that, in addition to the existing inequality in access, there is also an inequality in the quality of the care and treatment offered. Therefore, this study was configured as qualitative exploratory research that aimed to analyze the representations and meanings of “white being” identified in the speech of white undergraduate students in the health area. Therefore, semi-structured interviews were carried out with five academics from different undergraduate courses in the health area of the University of Santa Cruz do Sul. The methodological technique for sample selection was the “snowball”, with sampling for convenience, the analysis and interpretation of data were based on Psychoanalysis in extension or extra walls in conjunction with social studies on the subject. The data analyzed point to a representation of the white subject as a universal human being, from which racialized individuals differ. The perception of oneself as a white person is referenced by respondents in contact with black people, the so-called “different" so that the feeling of superiority accompanies this identification of the “different". The narcissistic component of egoic self-preservation was evidence as it was possible to identify, through the analysis and interpretation of the interviewees’, feelings of fear about black people, in addition to the exemption from responsibility for the privileges experienced, the denial of their racism and the responsibility of blacks themselves for the inequalities they face. It was possible to identify several contradictions expressed in the speech of the research participants, which highlight the specificity of Brazilian racism: it’s a racism that asserts itself through its denial and is characterized by ambiguity. The omission of the white subject’s place in the maintenance of racism in the inequalities arising from it in the context of health graduation can be understood as one of the various manifestations of Brazilian racism. Therefore, white health professionals must recognize not only the suffering experienced by black people – and other non-white racial-ethnic groups, but that also recognize their own racial identity; and that they seek to subvert the colonial logic and the white ideal in their daily interpersonal and institutional relationships. In this sense, there must be changes not only at the individual level but above all at the institutional level. So, it is essential to raise reflections on the scientific racism that served as the basis for structuring Western knowledge, both in social sciences and human sciences, and to make into account the epistemicide that marks the academic trajectories up to the present day.
Nota: Inclui bibliografia.
Instituição: Universidade de Santa Cruz do Sul
Curso/Programa: Curso de Psicologia
Tipo de obra: Trabalho de Conclusão de Curso
Assunto: Racismo
Psicanálise e racismo
Negros - Identidade racial
Brancos - Identidade racial
Narcisismo
Orientador(es): Dornelles, Alíssia Gressler
Aparece nas coleções:Psicologia

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